O teclado de computador que você está usando, conhecido como QWERTY por causa das letras na segunda fileira, é muito ineficiente. Você pode digitar bem mais rápido se estudar datilografia, mas isso não soluciona limitações que existem por causa do posicionamento das letras. Ganha-se velocidade e muito mais comodidade usando um teclado Dvorak.
No teclado Dvorak os dedos trabalham uns 42% a menos que no teclado convencional, cansando menos as mãos.
O teclado Dvorak é mais eficiente porque as letras mais comuns estão na home row: as vogais na mão esquerda e as consoantes mais usadas (DHTNS) na mão direita. Isso aumenta o paralelismo entre as mãos e elas também se movem muito menos para chegar à próxima letra.
As minhas mãos pararam de doer no fim do dia depois que passei a usar o Dvorak. E o conforto para digitar é muito maior, não há dúvida. Por isso ocorrem menos erros de digitação.
É interessante, neste ponto, conhecer um pouco sobre como surgiram esses leiautes de teclado.
Antes do teclado a que estamos acostumados (chamado QWERTY) existia o ABCDE, ou seja, a ordem era a do alfabeto. Mas as máquinas de escrever mecânicas d’antanho tinham um problema: os tipos, após percutirem o papel, demoravam um pouquinho para voltar ao seu lugar. Se um tipo vizinho fosse acionado logo em seguida, os dois tipos poderiam bater um no outro e ficar presos. O teclado QWERTY foi criado por Christopher Sholes em 1868 para resolver este problema. Ele procura distribuir os tipos de modo que raramente ocorra um encontro entre vizinhos. Por exemplo, o N está bem longe do O. Foram escolhidas combinações raras como QA, AZ, ZW, WS, SX etc.
Já faz muito tempo que esta razão de ser não existe mais. O teclado QWERTY é ineficiente e foram criadas várias alternativas. Interessei-me por elas porque passo o dia inteiro ao computador e o curso de datilografia foi insuficiente para evitar o cansaço das mãos.
O primeiro estudo sério a esse respeito – ergonomia no teclado – foi feito pelo Dr. August Dvorak, um primo do famoso compositor tcheco Antonin Dvorák. Criado em 1932, o teclado Dvorak concentra todas as vogais na terceira linha, na mão esquerda. Onde você está acostumado a digitar ASDFG, você encontrará AOEUI. Acredito que este simples conceito seja responsável por 80% das vantagens do teclado Dvorak, que se baseia nestes princípios:
Estas são as principais ideias, mas há outras:
Leva mais ou menos uma semana para se acostumar com o layout; é 1 letra por segundo ou menos! Depois, mais duas semanas para ganhar uma velocidade mínima. Durante esse tempo, é um teste de paciência; não pode querer digitar muito e precisa fazer pausas com muita freqüência! Ainda por cima tem que reaprender todos os atalhos como CTRL-C, CTRL-V, CTRL-S etc.
Usar um QWERTY nesse período deixaria você confuso. Uma vez começado o treinamento, persista! Se precisar digitar rápido, é melhor adiar o treinamento para tempos mais calmos.
Depois desse período, você já não se sente mal, mas ainda não tem sua velocidade anterior, a qual não deve voltar antes de 3 meses de adaptação.
Honestamente, para mim o pior dia foi o terceiro, quase desisti de tanta frustração. Dizem que alcoólatras também passam uma dificuldade especial no terceiro dia de abstinência. Coincidência?
Muita gente que já aprendeu bem o QWERTY não terá a força de vontade necessária para aprender o Dvorak. Marcus Brooks acha que tudo bem – a tragédia é outra: que o Dvorak não seja ensinado nem esteja disponível nas escolas. Principiantes em QWERTY estão fazendo uma má escolha para a vida inteira.
Pelo mesmo raciocínio, sei hoje que o meu investimento em aprender o teclado Dvorak já “se pagou” há muito tempo...
A assertiva de que no Dvorak os dedos percorrem apenas 58% do quanto viajam no tradicional teclado QWERTY (no plano do teclado) já foi confirmada muitas vezes por simulações de computador. Não demora para você mesmo perceber que a mão pula muito menos...
Aprendi a datilografar no QWERTY como todo mundo, mas resolvi usar o Dvorak pelo conforto. Hoje sou fluente nos dois layouts. Quando preciso usar um computador fora de casa, lembro-me do QWERTY facilmente. Meu smartphone me mantém treinado nele. Alguns anos após aprender o Dvorak, conheço-o tão bem que sequer mudo as teclas de lugar. Nunca tirei uma tecla do meu notebook.
Antes de decidir, experimente esta página em que você pode avaliar a dificuldade de adaptação. É um treinamento em vários idiomas; não é preciso estar usando um teclado Dvorak!
O mais importante, a meu ver, é informar escolas e educadores sobre as vantagens do teclado Dvorak, para que ele passe a ser usado pelas crianças, tomando-se também outras medidas para evitar os problemas de saúde associados ao uso do computador.
Acho que alguns usuários do QWERTY podem mudar para o Dvorak. Mas se eles não quiserem mudar, estão certos. Ou seja, devemos falar a todos, mas sem imposição.
http://web.archive.org/web/20071024161417/http://www.visi.com/~pmk/evolved.html
No link acima, um cara chamado Peter Klausler fala de suas experiências com um programa que “inventa” layouts de teclado, simula neles a digitação de literatura inglesa (e outras coisas) e mede sua eficiência. Um algoritmo evolucionário então altera o layout randomicamente. Após mais de 4000 layouts testados, a conclusão: é extremamente difícil conseguir um layout mais eficiente que o Dvorak!
Até onde eu sei não há no Brasil teclados Dvorak sendo comercializados. Mas é fácil comprar um comum, reles e vulgar teclado brasileiro ABNT2, trocar as teclas de lugar, instalar um driver no sistema operacional e passar a usar um teclado muito mais sadio.
Ao ler sobre as vantagens do Dvorak, fica-se com vontade de usá-lo. Isto aconteceu com muitos brasileiros. Mas os sistemas operacionais em 2005 não tinham drivers Dvorak apropriados para a língua portuguesa: faltavam “teclas mortas” para os acentos.
Em 2005, um grupo de nerds se reuniu num fórum hoje extinto que eu criei, e escrevemos drivers para Linux e para Windows, suprindo essa necessidade.
Trabalharam nisto Ari Caldeira, Heitor Moraes, Luiz Portella (que tinha uma página sobre o mesmo assunto) e eu.
Os drivers foram baixados milhares de vezes.
O leiaute a que chegamos visa a máxima compatibilidade possível com o famoso “Dvorak Simplified Keyboard” e com o ABNT2, que é o padrão brasileiro. Deste, ele tem todos os caracteres com exceção do cruzeiro (alguém já usou?). As teclas em fundo branco foram remanejadas a partir do ABNT2.
As LETRAS seguem a disposição Dvorak, mas não os sinais. Levamos em consideração a enorme freqüência com que digitamos acentos em português. Os acentos permanecem na mesma posição que o teclado ABNT2. Os acentos estão bem colocados na mão direita, pois as vogais ficam todas na mão esquerda, privilegiando a alternância das mãos.
O teclado numérico contém vírgula ao invés de ponto (nisto é igual ao ABNT2).
Acreditamos que este leiaute seja o melhor compromisso de compatibilidade com o ABNT2 e com o Dvorak Simplified Keyboard. Mas se você não concordar com algum detalhe, poderá “consertá-lo”, pois incluímos o código-fonte e o colocamos no domínio público.
Na época, tive uma ideia da qual não gosto mais:
Segurar a tecla SHIFT enquanto se aperta outra é provavelmente uma das coisas que mais cansam a mão, até por ser feito com o mindinho e não com o polegar, que seria uma escolha mais adequada. Na variante “shifted”, procurando reduzir a freqüência com que se usa a tecla SHIFT, os números (na linha superior) sofrem uma inversão de shift; vale dizer, os sinais estão disponíveis sem shift, e os números com shift. Este leiaute poderia ser preferido por programadores e por quem prefere usar o teclado numérico para entrar números.
As aspas duplas, mais comumente usadas que a apóstrofe (ou aspas simples), também são tecladas sem apertar o SHIFT.
Quer saber outro recurso interessante deste teclado? Por que o ponto de interrogação costuma necessitar que se aperte SHIFT? Será que não fazemos muitas perguntas? O que é mais freqüente neste parágrafo, o ponto de interrogação ou a letra J? Não seria melhor ter o ponto de interrogação sem shift, logo acima da letra A?
Fora os shifts, esta versão é igual à “conservadora”. A posição das teclas é a mesma.
Repito: embora eu mesmo seja programador, mudei de ideia e não gosto mais da variante “shifted”.
Entusiasmado com sua pesquisa, o perfeccionista Ari Caldeira inventou, baseado nos mesmos princípios do Dr. Dvorak, um novo leiaute totalmente otimizado para a língua portuguesa, chamado Brasileiro Nativo.
Pessoalmente não me interessei tanto, por acreditar que, embora o Dvorak Simplified Keyboard seja otimizado para o inglês (as letras mais usadas ficam na “home row”), o português seja parecido a ponto de não fazer quase nenhuma diferença. Além disso, muitos brasileiros escrevem bastante coisa em inglês... é o meu caso. Acho que o Dvorak é um padrão internacional, bastante usado na Europa, e penso mesmo que o mais importante é não usar o QWERTY, pois todas as outras alternativas – algumas muito recentes, como o Colemak – são muito melhores que o QWERTY.
É só visitar o github do projeto e apertar zip. Após descompactar os arquivos, você poderá ler uns arquivos de texto que ensinam a instalar os teclados.
Se você é bom com computadores e concorda em doar seu trabalho ao domínio público, pode ajudar o projeto:
https://github.com/nandoflorestan/teclado-br
Mas o que falta fazer? Veja os tickets abertos.
Espalhe o teclado Dvorak e o Brasileiro Nativo – vale a pena!
2012-04-24