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Teclado Dvorak

O teclado de computador que você está usando, conhecido como QWERTY por causa das letras na segunda fileira, é muito ineficiente. Você pode digitar bem mais rápido se estudar datilografia, mas isso não soluciona limitações que existem por causa do posicionamento das letras. Ganha-se velocidade e muito mais comodidade usando um teclado Dvorak.

Teclado ABNT2

Teclado brasileiro tipo QWERTY, padrão ABNT2. Ilustração de Heitor Moraes.

Por que usar um teclado Dvorak?

No teclado Dvorak os dedos trabalham uns 42% a menos que no teclado convencional, cansando menos as mãos.

Dvorak Simplified Keyboard

O teclado Dvorak é mais eficiente porque as letras mais comuns estão na home row: as vogais na mão esquerda e as consoantes mais usadas (DHTNS) na mão direita. Isso aumenta o paralelismo entre as mãos e elas também se movem muito menos para chegar à próxima letra.

As minhas mãos pararam de doer no fim do dia depois que passei a usar o Dvorak. E o conforto para digitar é muito maior, não há dúvida. Por isso ocorrem menos erros de digitação.

É interessante, neste ponto, conhecer um pouco sobre como surgiram esses leiautes de teclado.

História: 1868 – 1932 – 2005

Antes do teclado a que estamos acostumados (chamado QWERTY) existia o ABCDE, ou seja, a ordem era a do alfabeto. Mas as máquinas de escrever mecânicas d’antanho tinham um problema: os tipos, após percutirem o papel, demoravam um pouquinho para voltar ao seu lugar. Se um tipo vizinho fosse acionado logo em seguida, os dois tipos poderiam bater um no outro e ficar presos. O teclado QWERTY foi criado por Christopher Sholes em 1868 para resolver este problema. Ele procura distribuir os tipos de modo que raramente ocorra um encontro entre vizinhos. Por exemplo, o N está bem longe do O. Foram escolhidas combinações raras como QA, AZ, ZW, WS, SX etc.

Já faz muito tempo que esta razão de ser não existe mais. O teclado QWERTY é ineficiente e foram criadas várias alternativas. Interessei-me por elas porque passo o dia inteiro ao computador e o curso de datilografia foi insuficiente para evitar o cansaço das mãos.

O primeiro estudo sério a esse respeito – ergonomia no teclado – foi feito pelo Dr. August Dvorak, um primo do famoso compositor tcheco Antonin Dvorák. Criado em 1932, o teclado Dvorak concentra todas as vogais na terceira linha, na mão esquerda. Onde você está acostumado a digitar ASDFG, você encontrará AOEUI. Acredito que este simples conceito seja responsável por 80% das vantagens do teclado Dvorak, que se baseia nestes princípios:

  1. é mais fácil digitar alternando as mãos;
  2. os caracteres mais comuns devem ficar na linha central, onde repousam os dedos, e os mais incomuns na linha de baixo.

Estas são as principais ideias, mas há outras:

http://en.wikipedia.org/wiki/Dvorak_Simplified_Keyboard

http://shiar.nl/misc/dvorak

A parte difícil: acostumar-se

Leva mais ou menos uma semana para se acostumar com o layout; é 1 letra por segundo ou menos! Depois, mais duas semanas para ganhar uma velocidade mínima. Durante esse tempo, é um teste de paciência; não pode querer digitar muito e precisa fazer pausas com muita freqüência! Ainda por cima tem que reaprender todos os atalhos como CTRL-C, CTRL-V, CTRL-S etc.

Usar um QWERTY nesse período deixaria você confuso. Uma vez começado o treinamento, persista! Se precisar digitar rápido, é melhor adiar o treinamento para tempos mais calmos.

Depois desse período, você já não se sente mal, mas ainda não tem sua velocidade anterior, a qual não deve voltar antes de 3 meses de adaptação.

Honestamente, para mim o pior dia foi o terceiro, quase desisti de tanta frustração. Dizem que alcoólatras também passam uma dificuldade especial no terceiro dia de abstinência. Coincidência?

Muita gente que já aprendeu bem o QWERTY não terá a força de vontade necessária para aprender o Dvorak. Marcus Brooks acha que tudo bem – a tragédia é outra: que o Dvorak não seja ensinado nem esteja disponível nas escolas. Principiantes em QWERTY estão fazendo uma má escolha para a vida inteira.

Pelo mesmo raciocínio, sei hoje que o meu investimento em aprender o teclado Dvorak já “se pagou” há muito tempo...

A assertiva de que no Dvorak os dedos percorrem apenas 58% do quanto viajam no tradicional teclado QWERTY (no plano do teclado) já foi confirmada muitas vezes por simulações de computador. Não demora para você mesmo perceber que a mão pula muito menos...

Aprendi a datilografar no QWERTY como todo mundo, mas resolvi usar o Dvorak pelo conforto. Hoje sou fluente nos dois layouts. Quando preciso usar um computador fora de casa, lembro-me do QWERTY facilmente. Meu smartphone me mantém treinado nele. Alguns anos após aprender o Dvorak, conheço-o tão bem que sequer mudo as teclas de lugar. Nunca tirei uma tecla do meu notebook.

Experimente sem compromisso

Antes de decidir, experimente esta página em que você pode avaliar a dificuldade de adaptação. É um treinamento em vários idiomas; não é preciso estar usando um teclado Dvorak!

Eis outro treinamento.

Conquistando o mundo

O mais importante, a meu ver, é informar escolas e educadores sobre as vantagens do teclado Dvorak, para que ele passe a ser usado pelas crianças, tomando-se também outras medidas para evitar os problemas de saúde associados ao uso do computador.

Acho que alguns usuários do QWERTY podem mudar para o Dvorak. Mas se eles não quiserem mudar, estão certos. Ou seja, devemos falar a todos, mas sem imposição.

Para programadores

http://web.archive.org/web/20071024161417/http://www.visi.com/~pmk/evolved.html

No link acima, um cara chamado Peter Klausler fala de suas experiências com um programa que “inventa” layouts de teclado, simula neles a digitação de literatura inglesa (e outras coisas) e mede sua eficiência. Um algoritmo evolucionário então altera o layout randomicamente. Após mais de 4000 layouts testados, a conclusão: é extremamente difícil conseguir um layout mais eficiente que o Dvorak!

Como obter um teclado Dvorak

Até onde eu sei não há no Brasil teclados Dvorak sendo comercializados. Mas é fácil comprar um comum, reles e vulgar teclado brasileiro ABNT2, trocar as teclas de lugar, instalar um driver no sistema operacional e passar a usar um teclado muito mais sadio.

Ao ler sobre as vantagens do Dvorak, fica-se com vontade de usá-lo. Isto aconteceu com muitos brasileiros. Mas os sistemas operacionais em 2005 não tinham drivers Dvorak apropriados para a língua portuguesa: faltavam “teclas mortas” para os acentos.

Em 2005, um grupo de nerds se reuniu num fórum hoje extinto que eu criei, e escrevemos drivers para Linux e para Windows, suprindo essa necessidade.

Trabalharam nisto Ari Caldeira, Heitor Moraes, Luiz Portella (que tinha uma página sobre o mesmo assunto) e eu.

Os drivers foram baixados milhares de vezes.

O leiaute a que chegamos visa a máxima compatibilidade possível com o famoso “Dvorak Simplified Keyboard” e com o ABNT2, que é o padrão brasileiro. Deste, ele tem todos os caracteres com exceção do cruzeiro (alguém já usou?). As teclas em fundo branco foram remanejadas a partir do ABNT2.

Teclado Dvorak brasileiro

Teclado Dvorak brasileiro. Ilustração de Heitor Moraes.

As LETRAS seguem a disposição Dvorak, mas não os sinais. Levamos em consideração a enorme freqüência com que digitamos acentos em português. Os acentos permanecem na mesma posição que o teclado ABNT2. Os acentos estão bem colocados na mão direita, pois as vogais ficam todas na mão esquerda, privilegiando a alternância das mãos.

O teclado numérico contém vírgula ao invés de ponto (nisto é igual ao ABNT2).

Acreditamos que este leiaute seja o melhor compromisso de compatibilidade com o ABNT2 e com o Dvorak Simplified Keyboard. Mas se você não concordar com algum detalhe, poderá “consertá-lo”, pois incluímos o código-fonte e o colocamos no domínio público.

Variante “shifted”

Na época, tive uma ideia da qual não gosto mais:

Segurar a tecla SHIFT enquanto se aperta outra é provavelmente uma das coisas que mais cansam a mão, até por ser feito com o mindinho e não com o polegar, que seria uma escolha mais adequada. Na variante “shifted”, procurando reduzir a freqüência com que se usa a tecla SHIFT, os números (na linha superior) sofrem uma inversão de shift; vale dizer, os sinais estão disponíveis sem shift, e os números com shift. Este leiaute poderia ser preferido por programadores e por quem prefere usar o teclado numérico para entrar números.

Variante "shifted"

Teclado Simplificado Brasileiro, variante “shifted”. Ilustração de Heitor Moraes.

As aspas duplas, mais comumente usadas que a apóstrofe (ou aspas simples), também são tecladas sem apertar o SHIFT.

Quer saber outro recurso interessante deste teclado? Por que o ponto de interrogação costuma necessitar que se aperte SHIFT? Será que não fazemos muitas perguntas? O que é mais freqüente neste parágrafo, o ponto de interrogação ou a letra J? Não seria melhor ter o ponto de interrogação sem shift, logo acima da letra A?

Fora os shifts, esta versão é igual à “conservadora”. A posição das teclas é a mesma.

Repito: embora eu mesmo seja programador, mudei de ideia e não gosto mais da variante “shifted”.

Brasileiro nativo

Entusiasmado com sua pesquisa, o perfeccionista Ari Caldeira inventou, baseado nos mesmos princípios do Dr. Dvorak, um novo leiaute totalmente otimizado para a língua portuguesa, chamado Brasileiro Nativo.

Teclado brasileiro nativo

Teclado brasileiro nativo, de Aristides Caldeira.

Pessoalmente não me interessei tanto, por acreditar que, embora o Dvorak Simplified Keyboard seja otimizado para o inglês (as letras mais usadas ficam na “home row”), o português seja parecido a ponto de não fazer quase nenhuma diferença. Além disso, muitos brasileiros escrevem bastante coisa em inglês... é o meu caso. Acho que o Dvorak é um padrão internacional, bastante usado na Europa, e penso mesmo que o mais importante é não usar o QWERTY, pois todas as outras alternativas – algumas muito recentes, como o Colemak – são muito melhores que o QWERTY.

Passos para instalar o teclado Dvorak brasileiro (BRDK)

  1. Compre um teclado ABNT2 e use uma faquinha para extrair as teclas. Recoloque-as conforme a ilustração acima. Mas compre um teclado sem inclinações nas teclas, senão elas ficarão desagradavelmente tortas após remanejadas.
Um teclado reformado

Um teclado reformado

  1. Baixe o zip e descompacte-o. Ele contém os drivers para Windows e para UNIX. Heitor Moraes fez até um PDF ilustrado, ensinando a instalar o driver no Windows XP.
troca_teclado.py

No Unix, o programa troca_teclado.py permite experimentar os leiautes.

  1. Pratique de novo toda a sua datilografia ;)

De onde baixar os drivers

É só visitar o github do projeto e apertar zip. Após descompactar os arquivos, você poderá ler uns arquivos de texto que ensinam a instalar os teclados.

Contribua

Se você é bom com computadores e concorda em doar seu trabalho ao domínio público, pode ajudar o projeto:

https://github.com/nandoflorestan/teclado-br

Mas o que falta fazer? Veja os tickets abertos.

Espalhe o teclado Dvorak e o Brasileiro Nativo – vale a pena!

2012-04-24